Com a crise, há quem não queira sair da prisão

As prisões portugueses estão sobrelotadas e os cortes orçamentais acumulam-se mas ainda assim muitos prisioneiros preferem ficar atrás das grades por receio da crise. Um retrato traçado pelo Júlio Rebelo, Presidente do Sindicato Independente da Guarda Prisional, ao The New York Times.

“Estamos numa situação de tal austeridade que muitos prisioneiros nem sequer se candidatam a uma saída antecipada porque pelo menos aqui têm refeições pagas”, afirmou Júlio Rebelo ao jornal norte-americano The New York Times, que hoje dedica um artigo às dificuldades que as prisões portuguesas atravessam.

“É a primeira vez que assisto a algo assim, mas parece que as famílias não têm meios para receber os prisioneiros em casa”, explicou o presidente do Sindicato Independente da Guarda Prisional.

Os cortes e as dificuldades económicas que se fazem sentir nos estabelecimentos prisionais em Portugal são um reflexo do que se passa no país, escreve o New York Times, mas o maior problema é a sobrelotação dos espaços, 110% acima da sua capacidade, com uma média de 1400 prisioneiros em excesso. Júlio Rebelo acusa ainda o Governo de manipulação das estatísticas dos presos para esconder o problema da sobrelotação, que torna a vida de prisioneiros e guardas insustentável.

O jornal norte-americano falou com um ex-recluso, Jorge Montero, que saiu da prisão em 2009 e foi obrigado a emigrar para poder sobreviver. “Se sairmos agora de uma prisão em Portugal, temos quase zero oportunidades de não voltar para a prisão.”

Antes do pedido de resgate e do plano de austeridade, Portugal tinha em vista a construção de 10 novas prisões, com um custo de 750 milhões de euros. Agora está em construção apenas uma, nos Açores.

O terreno é fértil para a corrupção, admite o presidente do Sindicato, com os prisioneiros, por exemplo, a comprar ilegalmente aos guardas produtos básicos como champô ou detergente, que deixaram de ser fornecidos pelo establecimento prisional. Os cortes estão também a deixar as prisões com “serviços mínimos”. Há câmaras de vigilância que permanecem estragadas durante seis meses, sem reparação, porque a empresa de manutenção ainda não foi paga por trabalhos anteriores.

in http://noticias.sapo.pt/nacional/artigo/com-a-crise-ha-quem-nao-queira-s_5317.html

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